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Azul da Cor do Mar

Foram várias as reformas. Todas emocionantes. Adoro reforma, cheiro de tinta, movimento.

Quando compramos nossa casa a piscina era desengonçada, grande demais para o terreno, com um azulejão antigo, meio estragado, o piso do jardim, de pedra mineira, disforme, meio tosco. Na primeira mexida na casa o dinheiro acabou antes de chegar à área externa, que ficou pra depois.

O depois chegou e fomos atrás do sonho de consumo da época, ter uma piscina azul cobalto de pastilhas de vidro “vidrotil”. Como elas eram muito caras optamos por outra, mantendo o cobalto. Logo que a piscina ficou pronta _ com o piso do jardim de tijolos, descolados, com cara de antigos, com um desenho bacana e a piscina toda empastilhada - fomos recebendo a aprovação e a desaprovação da família.

Meu pai foi o primeiro: Parece um lago, não gostei!

Só ele foi sincero, ninguém mais teve a coragem de dizer o que mais tarde me pareceu o óbvio. A piscina parecia um lago, escura, mesmo limpa sempre pareceu suja, nunca deu vontade de usar, acho que as árvores faziam sombra e o azul escuro não ajudava.

Os anos passaram, o casamento acabou e eu que nunca tinha chegado perto do motor da piscina e, também, nem tinha recebido do ex-marido um manual de instrução da casa, comecei a observar, aos poucos, aquele lago se transformar num pântano.

Resolvi procurar um piscineiro. Na praça do bairro perguntei aos funcionários que cuidam da segurança do local quem entendia de piscina e logo o primeiro me disse: deixa comigo senhora, eu posso ir à sua casa, entendo tudo.

Falou lá um valor que julguei justo e veio na minha casa. No primeiro dia pareceu que a piscina reagiu, a água mais clara. Pensei toda contente como as mulheres não precisam de ninguém e como somos tão independentes quando queremos.

Passados alguns dias a água apodreceu. De pântano, passou a ser um grande vômito, verde, verdíssimo.

Aí deprimi (quase, não tenho vocação). Saí de qualquer jeito na rua, meio descabelada, meio chorando (tô exagerando) tão chateada com a minha burrice que parei o primeiro funcionário conhecido do bairro e desabafei:

- Olha. minha piscina apodreceu, eu me separei, o rapaz foi lá, piorou tudo, preciso de ajuda, você pode me indicar alguém?

- Ah D. Branca, falou ele consternado, pode deixar, vou ajudar, conheço o Vagner, ele limpa a piscina de todo mundo no bairro, vou falar agora com ele.

De D. Branca assumi a Scarlett O” Hara de “O vento levou” que existe em cada um de nós e suspirando acreditei que o amanhã seria diferente e disse pra mim mesma: Minha piscina nunca mais será a mesma! Agora sim, resolverei o problema!

Dispensei o espertão que não sabia nada de piscina. Me disse o Vagner depois que ele envenenou a água. Em alguns dias, quase como num milagre, a cor foi voltando, a água da piscina ficando clara, bonita. Ainda assim continuei incomodada.

Só sosseguei agora na pandemia, quando reformei de novo a piscina e coloquei nela o revestimento azul claro (não se fala mais ajulejo). Aproveitei enquanto estava vazia (antes do caminhão pipa despejar 30 mil litros de água cristalina) para cantar à capela dentro dela, com direito a vídeo para o Instagram, com um vestido todo azul, da cor do mar.

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