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Comorbidade

A mensagem chegou de todos os meus grupos de whatsApp e de pessoas amigas também. Todos avisando que no Clube “A Hebraica” em São Paulo, estão    disponibilizando 1800 doses da vacina da Pfizer para a prevenção da COVID19.  Na nota recebida não há nada sobre “comorbidade” e eu mesmo sabendo do que se trata vou perguntando de grupo em grupo quais são os critérios.   

O pessoal responde e eu explico constrangida que não me encaixo. Não tenho essas doenças que estão descritas no “Anexo 4” do Ministério da Saúde em que estão elencadas as doenças que autorizam a vacinação.

Mas você não tem nada? Pressão alta, asma, lesão nas válvulas, arritmia, qualquer coisinha, não toma nada? 
 
Bem, eu tenho 56 anos, uma insuficiência mitral discreta. Será que é o caso? Entro no site do hospital em que faço meus exames, louca para que eu tenha enfim um probleminha, quem sabe não olhei direito e eu tenho mesmo alguma coisa que justifique tomar a vacina ainda neste final de semana. 

A ecocardiografia doppler é clara. Está tudo direitinho comigo e só consta no exame a insuficiência mitral discreta. Não satisfeita, vou pesquisar no google. Não fui só eu. Minha discreta anomalia é vulgar, acho que muita gente tem, porque pela minha pesquisa não fui só eu que tentei saber. A resposta é clara: 

“Insuficiência mitral é uma disfunção na valva mitral que permite um retorno de sangue em determinada fase do ciclo cardíaco. Quando é leve somente se faz uma observação e não acarreta alteração na mecânica do coração, portanto, não sendo considerado fator de risco paracovid19.” 

           
Envio a foto da resposta do google para mina filha e ela reitera. É mãe, como eu já tinha te dito, isso é uma coisa simples, todo mundo tem. 

O curioso é que parece que estou de má vontade. Os amigos que tomaram a vacina munidos dos seus laudos e receitas de uso continuado, insistem comigo para que eu me esforce para tomar a vacina. 

Capítulo, não vou mais pensar nisso. Vou esperar a minha vez, pela minha idade. Curiosamente sou jovem e saudável para me vacinar agora e os de verdade jovens nem tem ideia de quando será a sua vez. 

Valores invertidos, agora é bom ter idade e problemas de saúde que antes eram escondidos. Nunca soube que meus amigos fizessem uso de tantos medicamentos, e que tivessem tantos problemas de saúde. Sem pudor. No Facebook perdi a conta de quantas pessoas da minha idade foram vacinadas por possuírem as tais comorbidades. 


Não é só isso. Outro dia perguntei a uma mulher, que me pareceu uma senhora, com cabelos grisalhos, de coque, quando ela havia tomado a vacina. Ela respondeu surpresa com a minha pergunta que ainda não havia tomado a vacina pois não havia chegado a sua hora de se vacinar. Eu estava me sentindo super mais jovem que ela, uma garota e, disse, ah, eu tenho 56 nem sei quando será a minha vez. Ela respondeu com um sorriso satisfeito que tinha a mesma idade que eu.        

         

Passa o mesmo comigo. Já respondi muitas vezes  que sou muito jovem para ter tomado a vacina, que para minha idade ainda demoraria, mas é fato (o que vou fazer) que se me perguntam é porque meu espelho é meu cúmplice  vendo uma jovem que só existe dentro de mim.  

Desde quando eu posso ter quase sessenta anos? Ninguém me avisou que, de um dia para o outro, você passa a ser uma sogra, com filhos adultos, e que o seu preconceito contra os mais velhos se volta contra você e que mesmo que você se ache muito jovem e descolado você está encaminhando para a terceira idade.

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